terça-feira, 1 de novembro de 2011

Causos: A estranha reza de Dona Noemi

seção: Causos




Dona Noemi era uma senhora de uma das mais tradicionais famílias cearenses, tão tradicional que não vamos nem falar no sobrenome que hoje é famoso. Mas, dona Noemi tinha um jeito muito estranho de rezar o terço que tradicionalmente acontecia, precisamente às 18h, todos os dias, na maioria dos lares cearenses, lá pela década de 60.

Naquela época, era comum que as famílias usassem crianças no trabalho da casa, geralmente caboclinha do interior, raramente negrinhas, pois no Ceará a raça negra teve pouca penetração e a abolição da escravatura veio muito antes do resto do Brasil.
Mas, na casa da D. Noemi trabalhava uma negrinha, vinda do Maranhão, com pouco mais de dez anos. Fazia de tudo, a pobre menina: espanava, varria, lavava roupa, só não cozinhava porque não sabia. Uma exploração da mão-de-obra infantil, hoje inconcebível, mas naqueles tempos, como já foi dito, considerada normal.

Pois bem, Dona Noemi estava sempre preocupada com o trabalho da pobre negrinha. Exercitava com isso, inconscientemente, o seu sadismo nato. E durante as sessões religiosas não era diferente:
 "Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco...".

E aos gritos, emendava: 
"Negrinha sem-vergonha cuida do teu serviço, não pense que eu não estou de olho!".
Em seguida, calmamente, continuava a reza: "...bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus...".

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